A fotografia funciona como uma memória de nossas vidas. Através delas revivemos momentos muito especiais e até toda uma fase que vivenciamos. Uma fotografia traz, em uma imagem, inúmeros detalhes que podem nos remeter a incontáveis histórias. A roupa que usamos, uma pessoa que está ali mas não temos mais contato, um objeto ganho de presente, um local, uma comida, diversos sentimentos. Temos a possibilidade de congelar uma fração de segundo de uma história que não para. Essa coletânea de instantes que reunimos ao longo dos anos será nossa autobiografia ilustrada, contará quem fomos, quem somos e como nos transformamos. Um grande tesouro para mostrar para as gerações seguintes.
A fotografia de parto, então, serve para capturar algo que mal podemos descrever. Uma explosão de sentimentos e significados, um evento que vai mudar a vida de toda uma família. Eu, como fotógrafa nesta ocasião sublime, busco captar as sensações, as emoções que ficam tão à flor da pele, as trocas de olhares, os carinhos, a entrega, os medos, as dores, o alívio e a alegria. E me coloco ali de forma quase imperceptível nos momentos cruciais, como mera espectadora de tamanha maravilha. E assim imagens são registradas para que aquela mulher possa recordar o que muitas vezes ficaria esquecido na partolândia. E o bebê poderá contemplar, conforme for crescendo, o momento em que veio ao mundo e todo o amor que o trouxe.
Para que tudo isso flua da melhor maneira, a pessoa que fará esses registros deve entender a complexidade dessa ocasião, ser sensível e empático a todo o processo para poder respeitar todos os envolvidos, não interferir de forma negativa, não causar problemas que podem até mudar o curso desse parto. É uma grande responsabilidade. Me tornei doula justamente para aperfeiçoar minha atuação como fotógrafa e hoje atuo nas duas áreas, separadamente para cada mulher. Em cada parto estou exclusivamente exercendo uma função, mas com certeza a doula em mim me torna uma fotógrafa de parto bem melhor.
Uma outra forma de enriquecer essas fotos é estabelecer um vínculo com a mulher, ouvir suas expectativas, suas histórias, seus anseios. Por se tratar de um momento tão íntimo e vulnerável sugiro haver ao menos um encontro real para facilitar essa conexão.
Eu, Kaya Veloso, fotografando um parto grávida de 35 semanas.
Foto: Maria Marsal (técnica em enfermagem)